Por vezes, antes de criticarmos o mal pelo qual passamos no tempo presente, é sábio aceitar a inevitabilidade das decisões que tomamos no passado, em parte responsáveis pelo que vivemos: e mais sábio ainda é tentar projetar o futuro que dela advirá. Com boa chance, você poderá alterar parte desta realidade destinada a se repetir, se souber conjecturar o rumo e a história do próprio destino.
Projetar o próprio destino, naquilo que depende de tantas pessoas, todavia, não é tarefa para futurologia, muito menos um subproduto da adivinhação. Predicar o futuro que provém do presente é o exercício de homens e mulheres que são narradores, e não aceitam ser passageiros. O segundo é e sempre será parte integrante de cardumes, entregues à sorte da escolha de outros; já o primeiro, no entanto, se sua predição for saudável e qualificada, pelo menos terá a chance de escolher integrar, ou não, o cardume dos conduzidos.
Aqui na FZ Advogados, procuramos ver o futuro partindo da realidade presente, evitando os comportamentos previsíveis das recuperações judiciais fraudulentas que enfrentamos desde 2017. Houve um tempo, é bom lembrar - não muito distante de hoje - em que, com alguma frequência, viamos advogados de recuperandas, consultores financeiros e administradores judiciais, serem recebidos pelas próprias vítimas com a honraria dos tapetes vermelhos, tratados como celebridades, cortejados com loas merecidas pelos mártires e heróis, a despeito de todo mal que alguns poucos deles causavam. A deferência nunca se justificou, mas ocorria porque o papel desempenhado pelos atores da recuperação judicial não era questionado nem questionável, nem mesmo em virtude e evidência de fraudes, e contestar essa realidade soaria não apenas estranho, como algo descortês, desarrazoado e impróprio.
Mudar essa realidade tem exigido um esforço visionário de muito dos nossos clientes, engajados em historicizar a realidade e o próprio destino, ousando enfrentar os imensos desafios impostos em qualquer mudança cultural, todos a exigir o olhar fixado num futuro em que cada ator, personagem e coadjuvante da recuperação judicial, não poderá mais esconder quem de fato são, e qual papel representam. Um longo e inevitável “abrir de olhos” teve início, amálgama de uma nova realidade em construção, que enfrenta resistência até mesmo dentro de seus quadros, ainda assim pavimentadora de uma nova correlação de forças, juridicamente mais justa e equilibrada, e profundamente mais comprometida com adequação do direito à economia da insolvência.
Manter a assertividade é a postura certa, e agudizar o enfrentamento parece ser o único meio para que consultores, administradores judiciais, ministério público, juízes e advogados que ainda são narrados pela cultura de proteção absoluta ao devedor, incrédulos da mudança ou até mesmo inconscientes para a realidade que mudou, sejam também contaminados pela nova realidade, em que o curso da recuperação judicial fraudulenta, dantes certo e inderrogável, já não mais se afigura razoável – pelo menos, não mais sem enfrentamento e a incerteza do resultado.
A todos os visionários e lunáticos que ousaram olhar para o futuro para projetar suas decisões, nosso mais respeitoso agradecimento.
Comments